Análises das atividades
Para estruturar as atividades foi aplicado um questionário aos alunos que buscou responder perguntas relacionadas à utilização de computadores para estudo, tempo destinado para se estudar em casa, se já havia utilizado computador para estudar Matemática, se acha a Matemática importante para o cotidiano, como vê a Matemática e fazer um desenho representando a Matemática na vida de cada um. Outro questionário foi aplicado aos responsáveis dos alunos para identificar o perfil sócio-econômico-cultural familiar, isto para desenvolver atividades que estivessem relacionadas com a vivência de cada aluno.
Notou-se, a partir dos resultados obtidos, que a Matemática, além das demais disciplinas, não está cumprindo com o seu papel fundamental de transformar os alunos em indivíduos pensantes, críticos e criativos. De acordo com o gráfico 5 a seguir, percebe-se que a maioria dos alunos veem a Matemática como importante para seu cotidiano. No entanto, a relacionam somente com a noção de contagem, ou seja, está ligada apenas a situações onde são necessários algum tipo de transação financeira. Para ilustrar esta situação, seguem afirmações de alunos sobre este fato, dizem que a Matemática é importante, pois “a gente aprende a fazer conta rápido” ou “para não ser passado para trás”. Um aluno da turma afirmou que a Matemática não tem nenhuma importância porque nunca gostou desta disciplina. Dois alunos conseguem visualizar a Matemática de forma mais ampla, um deles afirmou que é importante “porque tudo que a gente vê, tem a ver com a Matemática” e o outro “porque para tudo tem a Matemática”.
Gráfico 5 – Você acha que a Matemática é importante para o seu dia-a-dia?
Fonte: Dados obtidos pelo pesquisador, 2014.
Quando questionados sobre o que seria a Matemática para eles, alguns alunos conseguiram relacioná-la com o cotidiano, como por exemplo, com arquitetura e medidas de objetos. Outro aluno afirmou que “a Matemática está em tudo, no esporte, no modo de andar, em tudo tem Matemática”. Foram respostas interessantes já que os alunos não tiveram oportunidade de estudarem Matemática com objetos concretos de sua realidade ou com o auxílio do computador para ampliar seus conhecimentos matemáticos extraclasse. O gráfico 4 exposto anteriormente demonstra este fator, apontando que mais de 65% dos alunos nunca estudaram Matemática com o auxílio do computador e, além disso 100% não utilizaram materiais concretos para a apropriação de conceitos
Este resultado está fortemente ligado a utilização do Laboratório de Informática da escola, já que mais de 84% dos alunos não o utilizam para as aulas de Matemática, conforme mostrado no gráfico 3.
A metade dos alunos não utiliza o computador para estudar Matemática em casa ou na escola, a outra metade utiliza apenas em consultas no navegador de internet por fotos, vídeos e formas geométricas. Ou seja, não utilizam nenhum software específico para o estudo da Matemática. É um caso preocupante, já que os computadores da escola têm softwares específicos como o GeoGebra e, além disso, tem acesso ao Banco Internacional de Objetos Educacionais, que conta com diversas simulações, jogos, softwares e filmes relacionados a várias disciplinas. É nesse momento que o papel do professor é importante, pois é a partir de sua postura enquanto mediador é que estes vários recursos podem ser utilizados de forma que intervenham em sua prática pedagógica de forma que levem seus alunos a se apropriarem dos conceitos estudados de forma mais clara e precisa.
Reflexo desse fator está demonstrado no gráfico 6, que é o gosto pela disciplina de Matemática, mais de 19% dos alunos afirmaram não gostar da disciplina, alguns afirmaram o seguinte: “é muito cansativo”; “porque é muito ruim”; “porque a Matemática da dor de cabeça”. Estas afirmações são preocupantes, pois no momento em que os alunos estão na posição passiva no processo de ensino-aprendizagem, qualquer disciplina fica desinteressante e, mais uma vez, é papel do professor por sua mediação e estruturação das atividades, desenvolver momentos de aprendizagem em que os alunos consigam sentir interesse nas aulas. É neste sentido que conhecer o contexto se torna importante e uma alternativa para tornar a disciplina e as atividades de estudo estimulantes. Os demais alunos que afirmaram gostar da disciplina, mais de 80%, voltaram a relacioná-la com dinheiro e com a escola por meio de memorização da tabuada, um aluno afirmou o seguinte: “sem a Matemática a gente não ia saber mexer com dinheiro”.
Gráfico 6 – Você gosta da disciplina de Matemática?
Fonte: Dados obtidos pelo pesquisador, 2014.
Para conseguir visualizar a relação dos alunos com a Matemática, foi solicitado que os alunos elaborassem um desenho que representasse a Matemática no seu cotidiano. Novamente, alguns alunos fizeram a relação com o dinheiro (Figuras 38 e 39).
Figura 38 – Desenho representando a Matemática no cotidiano – Calculadora
Fonte: Elaborada por aluno da pesquisa, 2014.
Figura 39 – Desenho representando a Matemática no cotidiano - Supermercado
Fonte: Elaborada por aluno da pesquisa, 2014.
Em outros casos, fizeram a relação apenas com a escola e com a memorização da tabuada (Figuras 40, 41 e 42).
Figura 40 – Desenho representando a Matemática no cotidiano – Aula de Matemática
Fonte: Elaborada por aluno da pesquisa, 2014.
Figura 41 – Desenho representando a Matemática no cotidiano – Memorização da tabuada (4 operações)
Fonte: Elaborada por aluno da pesquisa, 2014
Figura 42 – Desenho representando a Matemática no cotidiano – Aula de Matemática
Fonte: Elaborada por aluno da pesquisa, 2014.
Alguns alunos conseguem relacionar a Matemática com o cotidiano, conforme mostram as figuras 43 e 44. No entanto, foram apenas dois alunos que fizeram tal relação. A aluna que realizou a figura 43 conseguiu demonstrar em seu desenho que a Matemática se faz necessária para que se possa construir uma casa sem mencionar, em momento algum, nenhum elemento matemático explícito como medidas ou números. Já o aluno que fez a figura 44 representou no plano cartesiano os elementos para que se possa construir ou simular matematicamente as medidas exatas para se fazer uma construção civil.
Figura 43 – Desenho representando a Matemática no cotidiano – Relação com a Arquitetura
Fonte: Elaborada por aluno da pesquisa, 2014.
Figura 44 – Desenho representando a Matemática no cotidiano – Relação com Figuras Geométricas
Fonte: Elaborada por aluno da pesquisa, 2014.
Outros casos estão ligados com a dificuldade que tem com a Matemática, a maioria dos alunos desenhou quebra-cabeças e pessoas pensativas, relacionando-a com contas ou problemas para resolver (Figuras 45, 46 e 47).
Figura 45 – Desenho representando a Matemática no cotidiano – Quebra-cabeça
Fonte: Elaborada por aluno da pesquisa, 2014.
Figura 46 – Desenho representando a Matemática no cotidiano – Pessoa Pensativa
Fonte: Elaborada por aluno da pesquisa, 2014.
Figura 47 – Desenho representando a Matemática no cotidiano – Pessoa Pensativa
Fonte: Elaborada por aluno da pesquisa, 2014.
Dois casos chamaram a atenção, demonstraram a grande negatividade que a Matemática tem na visão dos alunos (Figuras 48 e 49). Estes alunos demonstraram explicitamente o significado da Matemática para eles e, além disso, os outros alunos ao verem os desenhos no momento em que eram feitos, agiram de forma positiva à exposição dos colegas, fato que preocupa, já que esta visão negativa interfere no desenvolvimento matemático de cada um deles.
Quanto a isso, há fatores específicos que estão ligados ao processo de ensino-aprendizagem que podem influenciar negativamente no desenvolvimento intelectual dos alunos. Sanchez (2004, p. 174) aponta algumas dificuldades, entre elas se destaca a seguinte:
Dificuldades originadas no ensino inadequado ou insuficiente, seja porque à organização do mesmo não está bem sequenciado, ou não se proporcionam elementos de motivação suficientes; seja porque os conteúdos não se ajustam às necessidades e ao nível de desenvolvimento do aluno, ou não estão adequados ao nível de abstração, ou não se treinam as habilidades prévias; seja porque a metodologia é muito pouco motivadora e muito pouco eficaz.
Neste caso, esta visão pode estar relacionada aos procedimentos em que os conteúdos são trabalhados em sala de aula. De acordo com a professora regente, o modo expositivo é o único modelo metodológico utilizado pelo tempo disponível para ministrar o programa, o qual é definido pela Secretaria de Educação do Estado e seus cronogramas devem ser seguidos criteriosamente.
Figura 48 – Desenho representando a Matemática no cotidiano – Símbolo da Morte
Fonte: Elaborada por aluno da pesquisa, 2014.
Figura 49 – Desenho representando a Matemática no cotidiano – Símbolo do terror
Fonte: Elaborada por aluno da pesquisa, 2014.
Mudar esta visão que a Matemática expressa para os alunos não é uma tarefa simples. A utilização da informática e do Ensino Desenvolvimental pode ser uma saída para este problema e é com base nestes dois elementos que a proposta foi estruturada.